Texto: Laís Rocha e Melissa Sophie
Fotos: Laís Rocha, Melissa Sophie e acervo pessoal
Karleyby Allanda Barbosa de Sousa, 47, cresceu em um ambiente familiar cercado pela música. Filha de uma acordeonista e neta de um compositor, desde a infância conviveu com o baião, o choro e o xote. Mas foi no Ensino Médio, entre intervalos com os colegas, que descobriu que cantar não era apenas um passatempo, mas uma vocação. Apaixonada também pela língua inglesa, explorava o repertório nacional e internacional nas canções que cantava com os amigos, com artistas como Alcione e Aretha Franklin.
Deu seu primeiro passo profissional no final dos anos 1990. Incentivada pelo músico Wilson Zara, estreou no Bar Caneleiros, na rua XV de Novembro em Imperatriz, com um repertório de samba e bossa nova. Desde então, participou de vários festivais, como o Festival Aberto Balneário Estância do Recreio (Faber), e conquistou prêmios importantes, como o primeiro lugar no Festival Caneleiros de Música da Terra, em 1997, dividindo o troféu com o músico Luís Carlos Dias.
Karleyby lançou no dia 20 de dezembro de 2023 o álbum Renascer, composto por 12 faixas autorais. Além de cantora e compositora, é graduada em Direito pela Universidade Ceuma de São Luís, mestra em Letras pela Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL) e, mais recentemente, foi aprovada no doutorado em Letras da Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT).
Durante a tarde do dia 22 de junho de 2025, compartilhou na seguinte entrevista sua trajetória acadêmica e musical, destacando a importância de valorizar a música maranhense. Confira:

“Então a música tem uma capacidade curativa na minha vida, é deleite, é conexão com o divino. Música para mim é uma transmutação, é fundamental”.
Imperatriz Notícias – A senhora lançou um álbum em 20 de dezembro de 2023, chamado Renascer, por que esse nome?
Karleyby Allanda – Porque era o contexto de vida que eu estava presenciando. Passei por algumas dificuldades, tive a perda do meu pai, estava em um processo de separação matrimonial. Diante de tudo isso, fiz uma canção que o título é Renascer, também intitulei esse álbum Renascer, porque era uma forma de ressurgir, de me curar de algumas feridas emocionais, desse contexto que estava vivendo, de perda, de dor. Então, a gente precisa sempre Renascer.
I.N – Foi o seu único álbum lançado. Você planejou outros lançamentos?
K.A – Agora estou com outro projeto, projeto de samba. Já gravei o primeiro, que é o Samba da Peregrinação, fala de buscar um certo amor, mas por meio da fé. Então, o eu lírico transita nesse profundo peregrinar no intuito de conseguir, por meio da fé, recorrendo aos santos e aos anjos, enfim, a espiritualidade, para alcançar esse amor que é o divino, mais calmo, inspirador.
I.N – Você já participou de eventos como o I Festival de Música Popular Maranhense do Sintsep e o 7º Festival de Música de Imperatriz. Como esses palcos contribuem para fortalecer a música regional e a sua trajetória como artista?
K.A – Os festivais são de grande valia para nós artistas, divulgação de novos talentos, para que o público conheça, se apropriem de quem está surgindo, como também os que já estão trabalhando há muito tempo. Então, os festivais funcionam como o próprio nome já pressupõe: uma exposição, uma vitrine, para que esses artistas sejam apresentados para o público.
I.N – Além da carreira musical, você também é graduada em Letras e atua como professora no Centro Educa Mais Nascimento de Moraes. Você acha que suas músicas influenciam na sua didática?
K.A – Sim, eu gosto de levar músicas. Sempre que eu posso, levo músicas, como também filmes. Eu estou trabalhando na reflexão que a música nos permite. A poesia, sobretudo da canção, nos leva a refletir, como Carlos Felipe Moisés nos fala: “a poesia ensina a ver”. Então, a música tem essa capacidade de nos fazer perceber além do que se expõe do natural, além do alcance, refletirmos sobre outras vertentes.
I.N – De que forma a sua experiência no curso de Letras influencia seu processo de composição musical?
K.A – Tudo. Letras é um curso que eu amo, estava super certa quando decidi pela faculdade de letras. Eu havia passado em outra, mas decidi por letras, porque sempre quis. Literatura é a minha grande paixão e contribuiu significativamente para as minhas composições, porque tive contato com diversos teóricos, poetas e isso inspira.

“Eu tive alguns professores de violão, mas sou autodidata. A gente tem que desenvolver o protagonismo, precisamos ir além, buscar o nosso conhecimento”.
I.N – Como você enxerga o papel da música local dentro do campo da literatura e do letramento literário?
K.A – A música é incrível, em todos os sentidos da vida humana. No letramento literário, eu acredito que ela é uma grande aliada, porque nós vamos partir do pressuposto de que os alunos já conhecem música. Eles têm essa leitura, claro, de gêneros diversificados mediante a idade, a cabecinha de cada um. Mas eu posso muito bem fazer com que eles percebam e conheçam a música local por meio desse letramento, dessa poesia de cada canção, para que eles conheçam os artistas locais, que muitos não conhecem.
I.N – Em sua dissertação, “A Poesia Musical de Imperatriz: um diálogo de saberes na constituição de um povo”, você fala sobre artistas como Erasmo Dibell, Carlinhos Veloz e outros com carreira no Maranhão. Por que você escolheu escrever sobre eles?
K.A – Porque eles têm canções que descrevem a cidade, que falam de pontos importantíssimos de Imperatriz, que se eternizaram nas canções. Hoje já não é mais a mesma coisa, tudo cresceu, onde era o cine marabá, hoje não é mais. Houve modificações, mas ficou eternizada nas canções. Dumar quando fala: “Império Imperatriz, assume o teu trono cultural”, ele traz para a centralidade essa cidade que é uma Imperatriz, uma realeza, que merece respeito pela qualidade do que se tem, em todos os aspectos.
I.N – Você escreveu em sua dissertação que o discurso da tradição pode tanto revelar quanto engessar a identidade de uma região. Você acha que a valorização da música feita no Maranhão consegue escapar desse olhar engessado?
K.A – Escapar, eu não sei, mas digo o seguinte: Nos desdobramos no intuito de que a nossa música faça a diferença. Todos temos uma identidade musical, embora nosso país seja composto por essa diversidade rítmica. Mas a gente não pode ficar só nisso, com essas raízes podemos evoluir, mostrar o que há de melhor, embora sejamos taxados: “ah o Maranhão terra do boi”, aqui não temos só o boi, temos muito mais.
I.N – Você descreve os anos 80 em Imperatriz como uma época de efervescência cultural, com forte presença de poetas, músicos e artistas que marcaram a cidade. Pensando nisso, como você enxerga o cenário musical de Imperatriz hoje?
K.A – Hoje a gente percebe que temos muitas dificuldades. Ficamos 8 anos em atraso na gestão passada, porque não apoiava a cultura. O ideal seria que tivéssemos políticos engajados, voltados para a educação, para a cultura de fato, todos os aspectos da vida humana. O que acontece é que não estão preocupados com o bem-estar da sociedade, só visam dinheiro. A cultura, os artistas e nós sofremos com isso.
I.N – E o que a senhora espera para o futuro da música local?
K.A – Eu espero que a população se conscientize mais e que escolhamos sempre pessoas engajadas que deem espaço para os artistas, que de fato se preocupem com a política cultural da cidade. Na época, nós tivemos doutor Ribamar Fiquene, ele era um cara muito sensível. Eu acho que quando nós temos um político sensível no poder, as coisas fluem, porque ele não é munido de armas, é aberto ao diálogo, às artes, educação, a todos os parâmetros da vida humana. É preciso sensibilidade para que as coisas aconteçam, evoluam. É preciso humanidade.