Lyandra Gomes
O Zine Sibita comemora uma década de história, marcada por inovação, resistência e um forte compromisso com a cultura da região Tocantina. Surgido de um projeto de zine artesanal de “corte e cola”, no curso de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus de Imperatriz, se transformou em uma poderosa ferramenta de valorização cultural, adaptando-se às demandas de novos tempos, sem perder a essência colaborativa e artesanal que o originou.
A história do Zine Sibita, que foi criado pela professora do curso de Jornalismo, Yara Medeiros, começou de forma simples, com um fanzine feito à mão, repleto de notícias, crônicas, histórias e matérias regionais. “Eu nunca imaginei que ele poderia ter tanta repercussão depois deste tempo todo que a gente vem desenvolvendo”, diz Yara Medeiros, lembrando dos primeiros passos do projeto. O que começou como uma publicação artesanal de um grupo de estudantes de jornalismo na UFMA, cresceu ao longo dos anos, sempre prezando pela continuidade. “Tenho um apreço muito grande por essa questão de fazer edições e numerar publicações. Isso cria uma continuidade do trabalho”, acrescenta a professora, destacando a importância de dar sequência a um projeto que agora é reconhecido não apenas localmente, mas também nacionalmente.
Embora o Zine Sibita tenha começado com um formato impresso, a transição para o digital foi uma das chaves para sua expansão. Nos últimos anos, a professora e os alunos do curso de jornalismo se adaptaram às novas formas de comunicação, com o lançamento do site e a consolidação do projeto nas redes sociais. Além disso, a criação da TV Sibita é uma das mais recentes inovações, acompanhando o ritmo das novas mídias. Esse movimento de adaptação ao digital não foi apenas uma necessidade, mas uma forma de expandir a visibilidade do projeto, que também visa a democratização da cultura local. “O intuito do Sibita sempre foi esse, valorizar a cultura local e dar visibilidade às artes e manifestações culturais da nossa região”, explica Yara. O Zine Sibita tornou-se, assim, uma plataforma que não só divulga, mas também documenta as produções culturais da região Tocantina, ajudando a construir a memória deste tempo.
Prêmios e desafios

O esforço contínuo e inovador do Zine Sibita tem sido recompensado. Em 2024, a primeira edição do Sibitão, suplemento do Zine Sibita, com o tema “Radiografias da Cultura de Imperatriz”, foi agraciada com dois prêmios, um regional e um nacional, pelo melhor design de imprensa, no Expocom (Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação), do Intercom (Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação). A premiação destacou o alto nível de envolvimento dos alunos e sua dedicação na produção dos conteúdos. “Para a gente, é muito gratificante, porque quanto mais a gente faz e é valorizado, mais queremos fazer melhor”, afirma Yara.
Tanto a primeira quanto a segunda edição do Sibitão trabalharam com colagens. Enquanto a primeira experimentou a colagem digital, a segunda, lançada em fevereiro de 2025, com o tema “Memória das Artes de Imperatriz”, trouxe um diferencial: os alunos decidiram retomar a produção artesanal, com colagens manuais, uma referência ao formato original do fanzine. Esta decisão foi uma forma de fortalecer a ideia de coletivo e engajamento, essenciais para o projeto. “A construção colaborativa é muito importante. Quando todos se envolvem e trabalham juntos, o resultado cresce”, ressalta a professora Yara.
Embora o Zine Sibita tenha alcançado muitas vitórias, os desafios continuam. A grande meta de Yara é expandir a visibilidade do projeto para além dos muros da universidade e atingir um público ainda maior. “Hoje, a gente disputa a atenção com tantas outras mídias, e a visibilidade muitas vezes é um desafio”, reconhece Yara. Para isso, o Zine tem buscado cada vez mais interagir com a comunidade, participando de eventos fora da universidade e colaborando com escolas e outras instituições.

O impacto do projeto, inclusive, pode ser visto em diversas escolas, onde professores utilizam o Zine como inspiração para a produção de fanzines com seus alunos. “É muito gratificante ver que o Sibita está inspirando outras pessoas a produzirem e darem voz à cultura local”, afirma a coordenadora. Além disso, em 2024, o Zine Sibita foi objeto de pesquisa no Trabalho de Conclusão de Curso de uma aluna da Universidade de São Paulo (USP), o que demonstra a repercussão que o projeto tem alcançado até fora da região. “Isso é muito gratificante, ver que o nosso trabalho está reverberando em outros estados”, reforça a professora.
Lições
Nylla Maria, aluna do sexto período de jornalismo e participante do projeto, compartilha sua experiência com o Zine Sibita. Para ela, os 10 anos do projeto têm um significado especial. “Esse Sibitão de agora e esse momento dos 10 anos do são muito especiais, porque pela primeira vez estive com uma matéria escrita dentro do Sibitão”, diz Nylla. Ela produziu, com mais duas colegas, uma reportagem sobre a produção teatral em Imperatriz nos anos 1980 e 1990, publicada na edição mais recente.
A estudante também destaca o momento vivido durante a comemoração do Simpósio de Comunicação da Região Tocantina (SIMCOM), em dezembro de 2024, um evento que uniu o Zine Sibita aos estudantes de jornalismo em um marco de celebração, inclusive com uma sala especial aberta para o projeto e que atraiu grande público. “Foi um super momento para o grupo. A gente sente que está fazendo algo aqui, mas o Sibita não vai parar. Ele vai sempre crescer. Os novatos já estão se apropriando dele e se habituando com ele”, afirma. Segundo Nylla, o Zine Sibita tem sido uma experiência enriquecedora ao longo de sua jornada acadêmica. “A cada ano, o Sibita vai melhorando. Ele vai crescendo, recriando-se, porque novas pessoas vão entrando e novas coisas vão acontecendo”, explica.

Ela ressalta também o papel da TV Sibita, um projeto de audiovisual desenvolvido por sua turma, que agora integra a multiplataforma do Zine. Para ela, ver o Sibita ganhar prêmios e alcançar maior visibilidade é extremamente gratificante. “É muito motivador. Isso valoriza muito o nosso trabalho e enriquece a trajetória de qualquer pessoa dentro do curso.” Nylla destaca, ainda, a importância do impresso, um diferencial do Zine Sibita em meio à era digital. “Ver seu nome impresso no material, fazer uma apuração mais profunda, esse é o charme do impresso, que mantém vivo esse tipo de material.”
Ana Gabriela Fonseca, também aluna do sexto período de jornalismo, compartilha sua experiência ao fazer parte do projeto. Ela destaca a oportunidade de se envolver com o Zine Sibita de diversas formas, como na criação da TV Sibita, que sua turma ajudou a idealizar. “Foi incrível elaborar a TV Sibita, nossa turma foi a primeira na criação, e agora a gente fez o Sibitão. Então, realmente é um privilégio fazer parte de tudo isso”, diz Ana.
Para ela, o Sibita é um projeto que oferece muito aprendizado, especialmente nas áreas de audiovisual e colagens, incentivando a criatividade dos alunos. “Além disso, é uma forma de falar sobre cultura, regionalismo e nossa cidade. Isso é muito marcante”, explica. Ana também comenta a respeito das matérias produzidas para o número 2 do Sibitão, como a cobertura sobre as memórias do teatro em Imperatriz. Ela enfatiza que o Zine Sibita não se limita a questões externas. “É um projeto que engloba um todo, não só coisas de fora da universidade, mas também projetos de dentro, que muitas vezes não são vistos”, afirma Ana.
Maria Gabriela Ribeiro, aluna do curso de Jornalismo, faz uma reflexão sobre o impacto do Zine Sibita ao longo dos seus 10 anos. “É lindo ver que nesses anos o Sibita alcançou inúmeras pessoas e conquistou diversos feitos, sem deixar de lado a essência da criação manual”, afirma Maria. Para ela, o que torna o Sibita tão especial é a forma como ele une pessoas criativas de diferentes perspectivas, resultando em algo único. “Os envolvidos sempre dão o máximo de suas criatividades, e o que faz o Sibita ser o que é, é justamente esse alcance em mentes tão diferentes que, quando se cruzam dentro do material, acabam criando algo único e muito interessante”, destaca.
Maria também expressa sua felicidade e orgulho em ter feito parte de alguns desses anos de criações, lembrando que, ao longo desse tempo, o projeto não apenas cresceu em visibilidade, mas também se consolidou como uma plataforma de expressão e valorização cultural. “Fico muitíssimo feliz e orgulhosa em ter feito parte dessa década de criações”, conclui.
O grande foco do Zine Sibita para os próximos anos é continuar expandindo sua influência. Com o desenvolvimento de um projeto de extensão para capacitar professores da região em metodologias criativas, a professora Yara Medeiros busca fortalecer o alcance do projeto e promover o uso do Zine como ferramenta educacional e cultural. O projeto, intitulado “Zine Sibita na construção dos saberes locais”, promete abrir novos horizontes para a educação e a valorização da cultura Tocantina. Em seus 10 anos de existência, o Zine Sibita tem se mostrado uma plataforma crucial para a produção e preservação da cultura local, estimulando a criatividade e o engajamento dos alunos em um ambiente colaborativo. Com um trabalho coletivo e contínuo, o Zine Sibita tem tudo para seguir sua trajetória de sucesso nos próximos anos.