Entre UTI e abraços: o toque humanizado da fisioterapeuta Perpétuo Socorro

Por: Cairo Yuri

Perpétuo se destaca por seu envolvimento social, liderando projetos, arrecadando brindes e distribuindo produtos de higiene pessoal para as mães. Foto: Arquivo Pessoal.

Ao chegar no hospital para a entrevista, perguntei à recepcionista por Perpétuo Socorro. Com um sorriso, a mulher respondeu: “Vou ver onde ela está, porque a Perpétuo roda o hospital todinho”. De cara, entregou que a fisioterapeuta intensivista da UTI Neonatal da Maternidade de Alto Risco de Imperatriz (MARI) tem um comprometimento com a saúde das mães e dos bebês além do comum. Essa primeira impressão confirmou o que muitas histórias já sugeriam: Perpétuo é uma profissional em destaque. 

Nascida em Imperatriz (MA), Perpétuo Socorro Lima e Silva, 54 anos, sempre soube que seu caminho seria cuidar do próximo. Essa certeza a levou ao estado de São Paulo, onde se formou em fisioterapia pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), em Presidente Prudente. Mas foi o amor pela cidade natal que a trouxe de volta, e há 15 anos ela se dedica à UTI neonatal do MARI, atuando como fisioterapeuta intensivista e tutora do método canguru. 

Perpétuo se apaixonou pela prematuridade, um campo que abraçou com devoção. “Me identifiquei muito com as mães e os prematuros”, conta. Ela percebeu cedo que o cuidado não poderia se restringir apenas aos bebês. Era necessário estender esse olhar humanizado. “Nós profissionais focamos muito nos bebês, mas a mãe e a família também precisam de atenção”, afirma.

Foi assim que ela iniciou projetos, como rodas de conversa e sessões de cinema para as mães na Casa da Gestante, lugar que recebe mulheres que não teriam onde ficar enquanto aguardam o parto ou até que seus bebês recebam alta médica. Mais de duas mil gestantes e puérperas passam pela unidade por ano. Essas atividades propostas pela fisioterapeuta ajudam a aliviar o peso emocional das mães, oferecendo um espaço para desabafar e compartilhar experiências. 

A dedicação de Perpétuo vem desde o seu trabalho realizado na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), onde por 10 anos teve contato com bebês e ajudou a cuidar de diversas patologias. “Foi lá que meu interesse pela prematuridade cresceu”, lembra. Esse interesse a levou a se especializar ainda mais, tornando-se tutora do Método Canguru e desenvolvendo um vínculo profundo com as famílias que atende.

Uma das histórias que marcaram sua trajetória foi a de José, um bebê extremamente prematuro. “Eu via o sofrimento da mãe dele e sabia que precisava ajudá-la”, conta. Perpétuo se lembra de um momento em que segurou o bebê para que a mãe pudesse fazer a ordenha, um gesto simples que teve um impacto profundo. “A prematuridade é algo mágico. Você vai se apaixonando cada vez mais.”

No dia a dia, Perpétuo se dedica a dar sempre o melhor. “Eu tenho que abraçar cada família, zelar por eles”, diz. Católica, ela segue buscando orientação divina para lidar com os desafios diários. “Peço a Deus humildade e sabedoria”, compartilha. A fé e o compromisso com a humanização do atendimento ficam evidentes na realização do seu trabalho. 

Para Perpétuo, as mães de UTI são guerreiras. “Elas são muito especiais, têm uma força fora do normal”, elogia. Em momentos de perda, ela se empenha em oferecer consolo de forma humanizada. “Quando acontece que o bebê vai a óbito, a equipe chama, começa com assistência social, e aí a mãe entra na UTI, porque mãe e pai não são visitas, e eu pergunto: você quer pegar seu filho? E se ela diz sim, eu coloco no colo”, explica. Perpétuo garante que esse momento de despedida é significativo. “Eu pergunto se ela quer um pouquinho do cabelo do bebê e a marca do pezinho, aí eu vou atrás, porque isso é humanização. Eu sei que isso não vai trazer o filho dela de volta, mas é importante para o processo de luto”, conta. 

Ela relembra de um caso marcante de um casal jovem. “Fiz a marquinha do pezinho no papel e entreguei um pouquinho do cabelinho. Hoje, essa mãe está grávida novamente, e ainda guarda essa lembrança do filho”. A profissional diz que a dor dessas mães é imensa e única. “É muito pessoal, e mesmo sendo profissionais humanizados, não conseguimos sentir essa dor completamente. Então, tento sentar, olhar e perguntar: quer pegar o bebê? Se não quer, tudo bem. O pai quer? Quem quiser pegar, nós deixamos, e ela só vai soltar no momento dela, que é importante”, afirma.

Mas Perpétuo também testemunhou muitas histórias de superação, como a de Iasmin Fernandes, que saiu da UTI com seu filho Gabriel após uma intensa jornada de 96 dias de cuidados. “Fui ao aniversário de um ano dele, foi muito emocionante, a gente tem muita ligação.”, relembra a fisioterapeuta.