Luana Santos
Cidade movimenta até R$ 7 milhões com a sua principal prática agrícola
O sol brilhava intenso sobre São Domingos do Maranhão, celebrando a 5 ª edição do Festival do Abacaxi. Realizado entre 25 e 28 de julho, esse evento anual não é apenas uma celebração da fruta tropical, mas uma festa que enaltece o trabalho árduo e a dedicação dos produtores locais. A programação iniciou-se com a Blitz do Abacaxi, na BR-135, com veículos adesivados cortando a estrada e deixando o aroma adocicado no ar. O festival é um marco na agenda cultural e econômica da região, atraindo turistas de diversas cidades que movimentam a economia local e adquirem conhecimentos a respeito dessa cultura agrícola.
No primeiro dia, a cidade estava agitada com o concurso da Rainha do Abacaxi, que premiou Rebeca Sousa Herkisedek com R$ 7 mil. A competição tinha entre seus critérios ter “naturalidade sandominguense”, ou residir no município de São Domingos do Maranhão há pelo menos dois anos. A participante também precisava ser maior de 16 anos – completados até o dia 26 de julho, menos de 25 anos de idade e ter altura superior a 1,60 m. Foi um desfile de beleza e carisma, refletindo o espírito festivo e o orgulho local. O evento também proporcionou uma noite animada para celebrar a vivacidade e a diversidade cultural da região, com as seguintes atrações: Marcelo Forró Top, Banda Encantus e, para fechar, o show de Matheus Lima.
O dia 26 trouxe uma nova dimensão ao festival, com o concurso de poesia, cujo tema “Abacaxi: Raízes da Nossa História” envolveu alunos das escolas públicas e privadas. Os vencedores, premiados com R$ 3 mil, R$ 2 mil e R$ 1 mil, demonstraram como o produto se entrelaça com a identidade de São Domingos.
Já no terceiro dia, 27, a abertura contou com o encontro dos produtores, que incluiu palestras sobre “Indicadores Técnicos e Gerenciais do Abacaxi em São Domingos do Maranhão”, com o engenheiro-agrônomo Aurélio Bernardino Saraiva. Em seguida, o doutor em Agronomia, Francisco Bruno, abordou a assistência técnica gerencial do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). O evento foi marcado por momentos de aprendizado e oportunidades, incluindo um workshop sobre “O Abacaxi na Gastronomia”, conduzido pelo chef Rafael Bruno. À noite, a programação continuou animada com várias atrações, que agitaram a população.
Do Palco à Comunidade
O secretário municipal de Agricultura e presidente do Sindicato Rural dos Produtores, Astolfo Seabra Segundo, explicou o impacto do festival e a evolução da dessa prática agrícola na cidade. “A abacaxi-cultura é desenvolvida no município desde os anos 1990”. A implantação do cultivo representou um desafio para alguns dos técnicos e produtores nos primeiros anos. Com o apoio do governo estadual e dos governos municipais, a prática começou de forma tímida, pois não era muito exercida na região, mas com o tempo, o abacaxi foi conquistando espaço entre os trabalhadores, conforme menciona Seabra. “Hoje, a abacaxi-cultura não é só mais uma riqueza tanto financeira como culturalmente, já está intrínseca dentro dos produtores”, analisa.
Seabra descreveu as transformações ocorridas desde 2014, com a instauração do Sindicato dos Produtores Rurais, em São Domingos do Maranhão (SPRSDM). “A partir do sindicato, vieram os técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que é um braço muito forte na agricultura do estado do Maranhão. Foi instalada, também, essa expansão rural, que é a Assistência Técnica Gerencial, que nós chamamos de ATEG”. A assistência trouxe ao produtor mais qualidade e tecnologias.
Ao longo dos anos, foi se criando uma cadeia de espelhamento e vitrines tecnológicas, com alguns produtores que tiveram sucesso e outros que também passaram a adotar essas práticas. “Foram mais de 300 produtores assistidos e tivemos uma rede de assistência técnica com cerca de 500. Com a difusão dessa tecnologia, a produção vem se expandindo cada vez mais”, explica o secretário de Agricultura.
Não apenas pela parceria com os sindicatos e o Senar, mas também por meio da Secretaria Municipal de Agropecuária e Agricultura Familiar e outras iniciativas de difusão tecnológica, como a mecanização das lavouras, foram alocadas verbas estaduais e federais. Com isso, algumas comunidades receberam patrulhas mecanizadas para facilitar o trabalho com o cultivo do abacaxi na região.
Histórias de Vida e Trabalho
Os produtores locais, Vanderlan Virgulino de Sousa e Milton dos Anjos, compartilharam suas experiências com o cultivo do abacaxi, oferecendo uma visão da vida no campo. “Comecei com uma fiação que um rapaz me deu, plantei, fui produzindo e hoje tenho essa roça. O abacaxi é muito importante para o sustento de minha casa”, explica Vanderlan. As maiores dificuldades citadas pelos produtores incluem a preparação da terra e a mão de obra. “Vem o trator, trabalhador, cortar toco, arrancar tudo e deixar bonitinho assim!”.
Vanderlan também comenta a importância do trabalho de cobrir a fruta com papel para que o sol não a danifique durante o amadurecimento. Seu Milton, que também cultiva abacaxi há dez anos, explicou sua prática: “Planto abacaxi irrigado, que amadurece em cerca de um ano, no sequeiro é dois anos. Eu achei bom plantar irrigado. Dá trabalho, mas é bom”. Davi Guimarães, trabalhador que realizava a cobertura do fruto durante a conversa com seu Vanderlan, comentou: “É um orgulho muito grande saber que a nossa cidade está sendo reconhecida e está sendo tratada com o devido valor que merece”.
Pilar econômico
Com a expansão contínua da abacaxi-cultura, há um reflexo econômico na região. “Costumamos dizer que qualquer negócio que seja feito dentro do município acima de R$ 15 mil, R$ 20 mil, ou foi do abacaxi ou foi da pecuária”, afirma o secretário Seabra. A safra contribui significativamente não só para o produtor, trabalhador, burreiro, carregador, arrumador e para aqueles que vendem o capim, mas também para os donos de postos de combustíveis, a rede hoteleira e todos que alimentam diretamente as pessoas envolvidas na lavoura do abacaxi.
“Em um cálculo rápido, que foi feito no ano passado, especulamos que, indiretamente, circulam no município entre R$ 5 e R$ 7 milhões, fora o que é da comercialização, a venda direta do abacaxi”, analisa o secretário. É uma rede muito extensa, um conglomerado que se estende durante três meses: junho, julho e até o final de agosto, sendo o período de colheita do fruto.
O cultivo agrícola, que antes era arcaico na região, foi dinamizado com novas tecnologias, como as patrulhas mecanizadas. Com parceiros estaduais e federais, como explicou o secretário de Agricultura, foi possível trazer para o município técnicos não só em comunidades específicas que trabalham com a lavoura do abacaxi, mas também em outras áreas, facilitando o dia a dia no campo.
Essas patrulhas estão instaladas nas comunidades, por meio de associações, para baratear o custo do produtor com a mecanização e facilitar o acesso às tecnologias. O processo envolve a contribuição de técnicos e doutorandos em abacaxi-cultura, que ajudam a disseminar técnicas recentes, como a adubação foliar, granulada e como deve ser a distribuição entre os pés no plantio.
A Coroação
No último dia do festival, 28 de julho, aconteceu a estreia do Primeiro Bingão do Produtor. Os prêmios foram duas motos, Honda POP 0KM, e a atração reuniu pessoas de várias cidades e povoados, animados pela música ao vivo. A programação da noite incluiu a apresentação do Pepy Show, cantor local de São Domingos, seguido pelo espetáculo de Deborah Lee e, para encerrar o festival, Dorgival Dantas.
“São Domingos é a Capital Maranhense do Abacaxi, não só por esse desenvolvimento, mas por toda a força, alegria e brilho que o produtor de abacaxi traz. O festival é a coroação de todo esse mérito que não é meu, que não é da administração, é dos são-dominguenses, são eles que fazem essa brilhante festa”, ressaltou o secretário de Agricultura.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.