Por: Débora Maia
Preconceito e discriminação com quem vive com HIV são os principaisobstáculos para uma vida saudável. Foto: Prefeitura de Imperatriz
Há mais de 40 anos acontecia a primeira transmissão por HIV no Brasil. A partir de então, os avanços científicos permitiram que o vírus fosse controlável por diversos métodos, além da camisinha.
O mês de dezembro é marcado pela mobilização nacional da luta contra o vírus HIV, AIDS e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que nos últimos dez anos, o Brasil registrou queda de 25,5% na mortalidade por AIDS e 92% das pessoas em tratamento no país já atingiram o estágio de estarem indetectáveis, ou seja, não transmitem o vírus e seguem a vida sem manifestar os sintomas.
A Secretaria Municipal de Saúde aponta que, nos últimos cinco anos, em Imperatriz, 1121 pessoas foram diagnosticadas com o vírus, e em 2023, foram registrados 226 novos casos. No município, há o Programa Municipal de IST/ HIV/ AIDS, que atualmente atende 2836 pacientes de toda a região.
Receber o diagnóstico de HIV pode transformar a vida de uma pessoa. Desde a descoberta, a jornada emocional é desafiadora, afetando não só a saúde física, mas também o bem estar-psicológico. Atrelado a isso, o estigma social é uma das barreiras enfrentadas, gerando isolamento e discriminando quem vive com o vírus. “A fragilidade física começou a alterar minha imunidade e com isso veio algo muito pior, a vulnerabilidade emocional me levou a desenvolver depressão, em todos os momentos eu era alimentado pelo temor de perder a vida, não a física, mas me perder realmente”, relata o engenheiro civil de 42 anos, Marcos Lima.
No Brasil o tratamento é gratuito e pode ser realizado pelo SUS. Foto: Prefeitura de Imperatriz
Marcos conta ainda que, “Há oito anos, durante um intercâmbio no Canadá, recebi o diagnóstico de soropositividade. Esse momento foi com certeza o maior choque da minha vida, era como ter sido esfaqueado e não poder retirar a faca, a partir deste momento eu sabia que estava marcado pelo peso da gravidade do vírus e pelo medo das reações da sociedade, da família e especialmente de minha mãe. Mas nunca tive medo da morte, sempre foi a menor das minhas dores”.
A aceitação pessoal após o diagnóstico é um processo complexo e que ainda precisa ser discutido. Adaptar-se a um novo estilo de vida, com medicamentos e consultas médicas regulares, é desafiador. Entretanto, o apoio da família, da comunidade e dos grupos de apoio é fundamental para o enfrentamento dos desafios.
“Após aquele resultado eu passei e enfrentei os momentos mais difíceis da minha vida, lembro que contei para minha mãe e choramos muito. Mas ao contrário da reação que eu imaginava, ela ficou ao meu lado e afirmou que sempre ficaria. Então, decidi iniciar para tratar aquilo que eu muito desacreditava”, relata Marcos.
Transformar o vocabulário é também essencial para o processo de humanização. Alguns termos podem ser substituídos, por exemplo, o termo aidético pode ser trocado para soropositivo, pessoas vivendo com HIV, AIDS. É importante destacar que para além do vírus, existe um indivíduo.
Mesmo diante dos avanços científicos, a discriminação e o preconceito contra pessoas que vivem com HIV/ AIDS ainda é perceptível, é a chamada sorofobia. Por isso, em 02 de junho de 2014 foi aprovada a Lei Federal 12.984/14, que prevê a criminalização da discriminação contra pessoas vivendo com HIV ou AIDS, com reclusão de um a quatro anos e multa para diversas condutas discriminatórias, dentre elas, negar emprego ou trabalho; segregar no ambiente de trabalho ou escolar; recusar ou retardar atendimento de saúde e outras. “Com certeza não é fácil, eu gostaria muito de ter uma rede de apoio maior, não só agora, mas quando descobri, as pessoas são carregadas de muita desinformação”, afirma Marcos.
Foto: Governo Federal
O tratamento do HIV/AIDS pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil é um exemplo de políticas públicas voltadas para a saúde. O SUS oferece medicamentos antirretrovirais, consultas médicas especializadas, exames laboratoriais e acompanhamento clínico, garantindo acesso gratuito a todos que são diagnosticados com o vírus. Essa medida não apenas salva vidas, mas auxilia na redução da carga viral, de forma que possibilita uma melhor qualidade de vida aos pacientes e diminui a transmissão do HIV. O SUS atua não apenas no tratamento, mas também na prevenção da disseminação do vírus, com campanhas de conscientização e distribuição de preservativos.
Em Imperatriz, os serviços de atendimento para pacientes soropositivo acontecem no Complexo de Saúde do Parque Anhanguera, com uma equipe multiprofissional com médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, farmacêuticos e bioquímicos.