Vida em Abundância: As Experiências e Aprendizados das Mães de Pessoas com

Um levantamento de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
segundo o qual na população brasileira acima de 2 anos há 17,3 milhões de
pessoas com algum tipo de deficiência, o que representa 8,4% da população do
País.
Aqui estão assuntos sobre maternidade de pessoas com deficiências – que,
quando pensamos sobre isso, são na verdade itens básicos sobre a maternidade
em geral que todos nós já deveríamos saber.
Qualificar uma mãe – típica ou atípica – como heroína, guerreira, supermãe, etc.
pode até parecer (e na verdade é) um elogio. Mas é preciso ter cuidado para que
esses adjetivos não apontem de fato essa mulher para um conjunto de atribuições e
responsabilidades que ela poderia (e deveria!) compartilhar com o pai, com o
restante da família e com bom suporte.
A maternidade de pessoas com deficiências significa desafios específicos que
muitas vezes são mais difíceis (ou até maiores) do que os enfrentados pela
maternidade típica. Mas anexar automaticamente noções de fardo, arrependimento,
abnegação, etc. são atitudes preconcebidas e/ou capacitistas;
Junto com a criança, nasce também a mãe. Mas a maternagem (de cada filho)
também é um processo em constante construção. “Eu tinha toda uma versão de
maternidade romantizada. É uma aceitação diária, eu me redescobri uma Mãe muito
mais forte, acho que não só no âmbito materno, renasci tanto no pessoal quanto no
profissional também”, é o que diz Cristina Araújo, professora e mãe da Malu de 2
anos, diagnosticada com Autismo nível 1.

Cristina e sua filha Maria Luísa

É comum que as mães ainda carreguem o peso da culpa pelos sentimentos de
frustração e rejeição de seus filhos, por isso é importante lembrar que toda essa
turbulência é legítima e precisa ser vivida para seguir em frente. Lamentar as
expectativas cultivadas é inevitável, e varrê-las para debaixo do tapete pode ter um
impacto emocional muito pesado no futuro.
Mães de crianças, jovens ou adultos com deficiência, vivenciam o que muitos
chamam de maternidade atípica. Muitas dessas mães às vezes fazem as mesmas
perguntas “por que com meu filho?”, “por que eu?” ou “Como seria se ele fosse
diferente?”.

De maneira geral, a maternidade sempre foi romantizada pela sociedade ao longo
do tempo, e a maternidade atípica não “escapou” dessa visão idealizada.
Geralmente mães são definidas como mulheres que sempre sabem como lidar com
a situação e que não erram. Mas às vezes a cobrança é muito alta, e apesar de
agirem como “super-heróis” em muitos momentos quebrando nossos próprios
limites, elas são seres humanos com medos, anseios e frustrações.
Hoje em dia, ainda é possível encontrar pessoas que culpam as mães pelo autismo
de seus filhos, “já ouvi um infeliz comentário dizendo que a Malu só é assim porque
eu comi algo que não devia ou fiz algo de errado durante a gestação.” comenta
Cristina.

É desumano atribuir tamanha falha a uma mulher que já carrega muita
responsabilidade nas costas, como a quantidade de tarefas e papéis que ela tem

que cumprir.
Embora seja uma jornada única e desafiadora, existem muitos aspectos
gratificantes e especiais que acompanham essa experiência. “ São os momentos de
uma conquista, ou de fala, de andar ou na escola, esses momentos são
importantes. E falando no âmbito geral, eu que sou mãe de uma pessoa de 23 anos,
vejo o quanto a gente avançou, que ainda não é o suficiente”, é assim que Samanta
Matos, mãe e professora se sente ao falar das experiências gratificantes da
maternidade de pessoas com deficiência.

As mães se tornam defensoras de seus filhos, lutando pelos direitos e pela inclusão
deles na sociedade. Elas desempenham um papel ativo em moldar um mundo mais
inclusivo e acessível, “ sendo mãe de uma pessoa de 23 anos, vê o quanto a gente
avançou, não é o suficiente, mas já avançamos bastante em relação às políticas
públicas de inclusão de pessoas com deficiências. As pessoas começam a olhar
diferente no sentido de perceber que a pessoas com deficiência é uma pessoas
como todas as outras.” comenta Samanta.
Muitos ainda esquecem que antes de serem mães, são mulheres e que também
precisam se cuidar , e não é errado perder tempo cuidando delas mesmas,
tomando café com as amigas, fazendo exercícios, investindo em um novo curso ou
um hobby.