56,9% das mães solteiras estão abaixo da linha da pobreza

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Thátila Sousa

O número de mães solo ou arranjos familiares sem a presença paterna aumentaram significativamente no decorrer dos anos. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2005, o país tinha 10,5 milhões de famílias de mulheres sem cônjuge e com filhos, morando ou não com outros parentes. Já os dados de 2015, os mais recentes do instituto, apontam 11,6 milhões arranjos familiares, sendo mais de 1 milhão de famílias compostas por mãe solo em um período de dez anos. Além do comparecimento do pai na criação, existe também a do reconhecimento da paternidade, que segundo os dados mais recentes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com base no Censo Escolar de 2011, apontam que há mais de 5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do pai na certidão de nascimento.

Para a gerenciadora de marketing Mayele Guimarães, de 22 anos, que não foi criada pelo pai e teve ajuda financeira apenas até os 12 anos, afirma que conheceu duas realidades diferentes: a primeira, quando ele contribuía, mesmo com pouco., e depois, quando não teve mais a ajuda e sua mãe passou a ter dificuldades de criar ela e os irmãos por conta do pouco dinheiro. “Eu me distanciei dele porque a parte financeira já não existia, e tampouco a emocional, não estava sendo suprida”, comenta.

Contando sempre com o apoio da mãe, Mayele conseguiu se formar em uma universidade particular e hoje ganha o próprio dinheiro, podendo ajudar com as despesas de casa. “Ela já fez muito por mim, agora é minha vez”, mas complementa que a parte emocional ainda não foi sarada.

Hoje, cerca de 56,9% das mães solteiras estão abaixo da linha da pobreza, segundo IBGE,  mostrando que o abandono paterno não pesa apenas no campo emocional,  como a maioria avalia, mas também no financeiro, visto que as mães fazem esforços absurdo para conseguir cuidar dos filhos e da casa, muitas vezes, grandes jornadas de trabalho para compensar o desfalque no orçamento familiar.

O estudante Daniel de Melo, de 16 anos, conta que a mãe sempre se esforçou para não deixar faltar nada em casa. Ele diz que ela é professorae optou em ter apenas um filho justamente para não  passarem dificuldades financeiras e não faltar tempo para dar afeto.

Sobre a ausência do pai, ele diz que não sente. “A minha mãe sempre foi muito presente, então esse “vazio” que um dia eu sentiria sempre foi preenchido por ela”, comenta.

Existem casos em que o jovem chega a fase adulta com problemas sérios em relação a sua idealização de família. É o caso do estudante Paulo Maciel, de 25 anos, que foi criado por mãe e posteriormente, pela irmã mais velha em grande parte da sua vida. Ele afirma que sua visão sobre família sempre foi muito distorcida e que traumas e sentimento de abandono são evidentes, sendo que por mais que quem o criou tenham se esforçado, ele sente até hoje a falta de apoio afetivo e financeiro.

“Se tivesse a presença dele, já seria alguém que eu poderia contar”, revela Paulo.

Visões dos especialistas

A psicóloga Tamires Macêdo, formada na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), explica que, tradicionalmente, o pai é visto como o provedor, porém com os novos arranjos familiares, é possível presenciar cada vez mais a inserção da mãe no mercado de trabalho. Entretanto, ela aponta que muitas mães solteiras que precisaram exercer alguma atividade remunerada por conta da ausência do pai, levantaram duas dificuldades: a falta de uma figura paterna que estivesse presente na educação e apoio, não só em relação à autoridade, mas em relação a identificação e afeto. Porque muitos desses casos são filhos que foram gerados através de uma relação rápida e o pai abandonou quando ainda era criança, alguns casos, bebês de colo, sendo que para uma criança é mais doloroso saber que o pai abandonou e não quis assumir.

E outra dificuldade seria na sobrecarga emocional e física da mãe; na ausência dela durante parte do dia e muitas vezes esse filho fica com parentes ou até mesmo sozinho, e pelas experiências que já teve, essa situação facilitou o envolvimento com grupos de risco.

Tamires trabalha com menor infrator e observou um certo padrão familiar, e nos anos que trabalha nessa área, conheceu somente 5 pais que faziam as visitas e participavam de todo processo.

Cerca de 84,8% dos menores de quatro anos são cuidados por mulheres, segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) e a psicóloga afirma que a ausência do pai prejudica na questão afetiva. Segundo ela, nos seus atendimentos com crianças criadas sem pai, fica nítido a mágoa e o questionamento que eles têm dos genitores que os abandonaram, e não só pai, diz também que muita mãe que já saiu e nunca mais voltou ou simplesmente entregou aos avós toda a responsabilidade, gerando um sentimento de inferioridade e rejeição.

“Esses sentimentos afloram mais na adolescência e refletem muito na vida adulta. Muitos tem sua forma de lidar com a rejeição, alguns até tem uma figura paterna de referência como avô ou tios. Mas se tratando de um contexto social de vulnerabilidade, a mãe na maioria das vezes está só.” explica Tamires.

Para a psicopedagoga Marcia Lima, licenciada em pedagogia pela FAISA (Faculdade Santo Augusto) e pós-graduada em psicopedagogia pelo IESC (Instituto de Reconhecimento de Educação Avançada), destaca que o sistema familiar sem a figura paterna pode resultar em um adulto com possíveis danificações em sua personalidade, pela ausência do superego que consiste na imposição de limites e regras, resultando no que a sociedade chama de criação diferente, “Principalmente na adolescência, a fase conhecida como “rebelde”, os nãos da vida não são bem aceitos” complementa.

Segundo a psicopedagoga, crescer sem a figura do pai pode ser prejudicial desentendendo de como foi transmitido para a criança a situação, devendo deixar explícito para que ela entenda o motivo da ausência paterna. Ela explica que a relação de pai e filho é um dos fatores decisivos para o desenvolvimento social e cognitivo, facilitando a capacidade de aprendizagem e a inserção dessa criança no meio social.

“A partir de alguns casos clínicos, nós podemos observar que a ausência paterna tem potencial para gerar conflitos no desenvolvimento psicológico e cognitivo da criança, podendo acarretar distúrbios de comportamento na fase adulta”, afirma Marcia.

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