Arte, Cultura e Política: Uma Noite Universal

Esta reportagem é resultado de um exercício da disciplina de Técnicas de Reportagem. Cobertura paralela à já realizada pela equipe oficial do site.

Complexo, criativo e diversificado, são algumas características da junção de quatro elementos – Mc, Dj, grafite e B.boy que, unidos, formam e dão vida à cultura urbana politizada, o Hip Hop. Apresentado no fim do IV Simpósio de Comunicação, que teve como tema “Jornalismo, Política e Sociadade”, a arte das ruas fez o pequeno espaço da cantina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) se tornar em um latifúndio de cultura.

Em meio às paredes de azulejos e concretos, formadas de cores sem vida, está lá uma representação visual, o grafite. Um painel formado de papelão e TNT branco, dá à infraestrutura necessária para nascer a primeira mensagem: a de paz.

Skatistas também fazem parte da festa, com estilo alternativo e a vestimenta bem urbana. Aproveitam cada espaço, sentem-se em casa ao praticar seu esporte sem nenhuma restrição. O campus da UFMA vira um lugar urbanizado semelhante ao das grandes metrópoles. O corredor transformou-se em rua. O pátio, em praça.

Do outro lado, o Dj prepara seu som, aquece suas mãos nas tecniks (aparelhos de tocar discos de vinil), com movimentos rápidos e aleatórios. O semblante de felicidade é percebido no seu rosto, não dá para identificar se ele brinca com seu instrumento, ou está treinando para mais uma noite de exibição.

No canto, tímidos, alguns sentados, outros se alongando, os B. boys são notados. Olham o chão cinzento e liso da cantina, perfeito para demonstrarem seus talentos. Aos poucos começam a se levantar. O primeiro, jovem, negro, magro, de roupa vermelha e bem folgada, faz o primeiro movimento. Pronto, o público se desperta, surge o coro: “ôôôô”. Então, inicia-se de fato o show de cultura.

O B.boy líder do grupo reclama com o DJ: “Vamo, vamo, aquela bem pesada”. Então, aumenta-se o volume, coloca-se a música que dá vida à apresentação. Acaba a timidez e neste momento, a roda de B. boys está formada. Eles se debruçam no chão liso, em uma sincronia entre mãos e pernas. Quando um membro do corpo está em terra, outro está no ar, e quando os dois voam, a galera vibra, com movimentos que contrariam a lei da Física. O público, respeitando a lei (dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço), aglutina-se quase um sobre os outros para ver o espetáculo.

Para cada pulo, um aplauso e um grito. Para a dança bem executada, um sorriso do seu dono. Assim, eles fazem seu show, com os espectadores hipnotizados pela arte, e balançando o corpo com o som do gueto. Em meio aos dançantes, o painel que leva o nome de paz está sendo grafitado, ganhando cores: amarelo, azul, laranja. Três elementos trabalhando em sincronia. Os universitários não sabem para onde voltar a atenção. Mas, falta algo. “Quando os meninos vão cantar” desespera-se a professora organizadora do evento, ao sentir faltar de mais um elemento, o Mc.

O grupo de dança finaliza sua apresentação, despede-se, o líder deixar um singelo e importante recado, “Só Jesus é a solução”. Ação que ajuda a tirar o preconceito da marginalidade que a Arte das Ruas leva consigo. Toma posse dos microfones o grupo que representa o último elemento da noite. Anuncia-se então, Depoimento Pessoal, composto por Fabio Bonfim, Marcos Fly e Dj Bronx, que unidos apossam-se do espaço: “a voz do Mc está no ar”.

Fabio recita um trecho de uma música: “Você não é você, você é simplesmente isso, é sujo, é podre, é lixo”. Introdução perfeita para o grupo que prega o protesto, debatendo as desigualdades sociais causadas pela sociedade, em particular pelos políticos (lixo). A ideologia do grupo se encaixa no tema do simpósio. Desse modo, a voz pesada de Fabio e Marcos Fly ecoa nos altos-falantes, e coloca todos em sua volta empolgados ao som do rap. Em meio ao show, outro atrativo aos olhos. Um artista das ruas começa a executar seus malabares, mãos e ferramentas se misturam no ar, propiciando um espetáculo de arte.

Com o apoio de Marcos, Fabio, com os olhos quase sempre fechados, andando de um lado para outro, canta quatro músicas, com intervalos apenas para tomar um gole de cerveja. Ele copia a ação do público, que, animados ao som do Hip Hop, secam interminavelmente latinhas de cervejas. Quando as quatro canções chegam ao fim,  Fabio se despede representando o grupo. Ganha aplausos de um público exigente como prêmio da noite.

Em seguida, entra em cena outro convidado, Mc Mensageiro, um jovem de 16 anos, alto, magro, moreno, trajando roupas em que caberiam dois Mc´s. Revoltado com a realidade do Maranhão, canta duas músicas com teor de protesto. Uma mão vai de cima para baixo, cortando o ar, enquanto a outra segura o microfone com raiva,  exaltando a galera. Finalizada sua participação, despede-se. Ganha aplausos.

Pouco tempo depois, o grafiteiro, ao terminar sua obra prima, chama a atenção, acendendo o isqueiro e soltando a tinta do spray em direção ao fogo. Assim, uma labareda nasce iluminando a cantina, dando brilho às paredes azulejadas. O grito mais uma vez é ouvido: “ôôô”. Desse modo, a noite do Hip Hop chega ao fim. Louvada e apreciada.

Mas, ainda é cedo para os jovens, que, em uma noite de sexta-feira, não costumam ir para a casa antes da meia noite. Resta para o Dj o trabalho de entrar na madrugada com outros estilos musicais, respeitando a diversidade, e os gostos ecléticos dos universitários. Enquanto o dono dos toca discos trabalha, o restante do público e participantes invade o espaço da cantina, transformando-o em uma pista de dança. Assim segue madrugada adentro.