“Recomeçar é ainda mais desafiador do que começar”: Assonilde, proprietária do curso Seja+

Repórteres: Angela Lima Freitas e Layana Karine

Fotos: Angela Lima Freitas

A decisão de construir o próprio negócio de Assonilde Negreiros Ramalho, 44 anos, professora graduada em Letras pela Universidade Estadual da Região Tocantina (Uemasul) e especializada em Linguística, com experiência de 23 anos na sala de aula, veio após desfazer sociedade com o curso Avanços, no qual era gestora e empreendedora ao lado de seu ex-marido.

Como empreendedora Assonilde já tem prêmios. Em 2015 ganhou prêmio de mulher empreendedora pela Faculdade de Imperatriz (Facimp), além de convites para ser homenageada e falar sobre seu curso em outras faculdades, como a Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão (Unisulma). Ela empreende desde 2010, quando ainda tinha participação no curso Avanços. A gestora desfez sociedade com o ex-marido e entregou o curso Avanços no dia 30 de julho de 2013.  Seis meses depois com o apoio da família ela se reergueu e no dia 13 de janeiro de 2014 abriu o curso Seja+. Segundo Assonilde, o curso Seja+ nasceu de um recomeço, o que foi difícil para ela. “Recomeçar é mais difícil, é até mais desafiador do que começar, parece que nós não podemos errar, você não se permite certos erros, pois você já vem de uma história”, conta Assonilde. O curso começou com sede alugada e tinha 150 alunos, três turmas pré-vestibular, uma para seletivo do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), uma turma máster e uma turma para concurso. Atualmente o curso possui em média 1500 alunos, e em cada turma cerca de 260 alunos.

Em 13 de agosto de 2018, Assonilde conquistou mais uma etapa de seu sonho, sua sede própria, uma estrutura de quatro andares, com salas amplas e climatizadas. Durante esses quatro anos de funcionamento, o curso ganhou continuamente título de referência em aprovação e o primeiro lugar no médio integrado, conforme ela de 40 alunos aprovados no seletivo do IFMA, 32 fazem parte do seu curso. E por ano, as aprovações pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são cerca de 350.

Nesta entrevista, trataremos do tema empreendedorismo feminino, perguntamos a Assonilde sobre como é ser professora e empreendedora, sobre suas dificuldades, desafios e conquistas. A empreendedora conta porque recomeçar no mesmo ramo, e como surgiu o Seja+. Ela também fala sobre como ser mulher não foi um problema para se tornar empreendedora de sucesso na cidade de Imperatriz.

 

Imperatriz Notícias: Você fala que o Seja+ veio de um recomeço depois de desfazer sociedade com o curso Avanços, como foi esse recomeço?

Assonilde Negreiros Ramalho: Foi muito difícil, empreender é muito difícil, o mercado é muito complicado e eu vivia uma fase em que eu tinha que resolver uma situação para trás e ao mesmo tempo eu tinha que focar nos meus alunos, eu não podia perder o meu referencial, pois se eu me desviasse do meu foco, eu iria comprometer o próprio curso. Muitas adversidades, sobretudo porque eu comecei sem dinheiro, eu comecei só no crédito que eu tinha na cidade. Eu só tinha a credibilidade das pessoas que acreditaram em mim e os meus alunos que acreditavam nesse recomeço. E então lançamos a primeira propaganda e foi um sucesso. É uma superação a todo instante. É como fala Ayrton Sena: quando penso que cheguei ao meu limite, descubro que tenho forças para ir além.

 

IN: Você é graduada em Letras e tem especialização em Linguística pela Uemasul. Sendo professora, como é ser empreendedora?

ANR: Na verdade eu não me vejo como empreendedora, né. Eu me vejo como professora, mas uma professora que tem essa visão de gerir da melhor maneira, fazer a gestão da melhor maneira para que o aluno receba mais. Mas quer queira, quer não, eu tenho que articular tudo: tudo passa por mim, pedagógico, marketing, questões administrativas e financeiras. É um desafio porque com toda certeza, com toda humildade, eu queria ser mais professora. Sinto falta da sala de aula. Agora mesmo estou à procura de alguém que assuma esse pedagógico, porque sinto falta de ser professora. Eu preciso tirar um tempo para mim, eu tenho outros projetos, sou mãe, sou mulher, sou esposa. Preciso de tempo. Ser professora e empreendedora é um desafio dolorido. Não é fácil, mas é doloroso, mas eu amo o faço com muita paixão.

 

IN: Você vem de uma sociedade com seu ex-marido, depois de romper com o curso Avanços, o que levou você a criar o próprio curso? Por que investir no mesmo setor?

ANR: Eu não iria investir em cursinho, iria mexer com depósito de cimento, meu pai tem um depósito de material de construção, e era o auge de obras em Imperatriz. Minha irmã também tinha acabado de sair do escritório de contabilidade no qual ela trabalhava e quando eu sai do outro curso foi um momento muito conturbado, era final de julho, as faculdades já estavam fechadas com os professores e as escolas também, não tinha mais como eu conseguir vaga. Deixei currículo, mas no final de julho você não consegue mais emprego, então eu resolvi abrir uma distribuidora de cimento com minha irmã. Encontramos um ponto na Pedro Neiva, mas quando nós fomos fechar eu chamei minha irmã e disse que não me via sentada em uma mesa, atendendo telefone, vendendo cimento. Meu negócio é quadro, pincel, gramática e alunos. Nisso eu decide abrir o curso e em outubro de 2013 comecei a correr a atrás de lugar para alugar no centro e em janeiro de 2014 começaram as aulas.

 

IN: Vale a pena investir em educação?  É um ramo rentável?

ANR: É prazerosamente indiscutível, nós não estamos só pelo dinheiro, lógico que dinheiro é uma consequência de todo mundo que trabalha, agora curso preparatório em Imperatriz ainda está muito distante da realidade de grandes centros. Para você conseguir colocar uma mensalidade no valor de R$ 200 é sofrido. Então manter o curso com a estrutura que você tem, diferentes de muitos centros, com esse valor é difícil.Mas mesmo com essa limitação, você equilibrando os débitos, tendo um projeto financeiro organizado, contendo gastos, investindo no que tem de investir e trabalhando com equilíbrio, dá sim para você se manter, então sim, vale a pena.

 

IN: Uma pesquisa publicada pelo site Gazeta do Povo mostrou que as mulheres em todo o mundo têm menos propensão a considerar o empreendedorismo como um caminho de carreira, muitas vezes porque não veem outras empresárias como modelo. Você sendo uma mulher com prêmios na área e vindo de sociedade com o ex-marido, foi difícil empreender?

ANR: Foi ousado. Sempre costumo dizer que empreender é ousar. Eu sou muito corajosa em relação ao que eu vou fazer, se eu ponho um projeto para executar, eu dou o melhor de mim. O difícil foi porque no meu caso, como eu já falei, foi recomeçar. Era meio complicado, difícil foi a questão mais intimista, mas depois que eu me resolvi, que encarei isso, limpei a poeira e sacudi de outras questões.Foquei muito e confesso, fui muito abençoada, não foi difícil nesse sentido porque eu fui abraçada pela comunidade de Imperatriz.

 

IN: Então o fato de ser mulher não está incluso nas dificuldades encontradas no caminho de se tornar uma empreendedora de sucesso na cidade?

ANR: Não. Por ser mulher não foi uma dificuldade, alguns acham que é difícil por ser mulher, eu não vejo essa dificuldade, eu vejo que nós mulheres temos força, temos capacidade e temos até mais discernimento do que alguns homens, porque nós temos algo mais de sensatez e equilíbrio, e isso nos faz muito bem. Então por ser mulher, em nenhum momento foi uma limitação, pelo contrário eu acho que aí que foi mais fácil.

 

IN: Desde que você decidiu que iria investir no próprio negócio, qual foi o maior desafio?

ANR: Foi e é abrir mão da vida pessoal, porque isso aqui é manhã, tarde, noite e fim de semana, eu não paro um minuto. Para quem está lá fora só pensa sobre Assonilde ter um prédio, isso ou aquilo, não sabem das noites mau dormidas, da insônia, da renúncia, dos débitos para pagar, os grandes problemas que existem dentro de quaisquer empresas, conciliar com o ego de professores, agradar os alunos. Eu não paro, eu não tenho vida pessoal, o tempo todo é o curso. O maior desafio é abrir mão da vida pessoal, não ter tempo como eu queria para o filho, para o marido, para mim mesma. Mas eu não consigo me ver longe do Seja+ (emocionada) porque aqui dentro tem muita história, muita renúncia e é muito valorizado por mim.

 

IN: Como proprietária de um cursinho pré-vestibular e professora, o que precisa e o que você recomenda para alguém que vai tentar o vestibular?

ANR: O aluno ele tem de sonhar, ele tem de ter um sonho de passar no vestibular e acreditar no sonho. Quem não sonha, não tem brilho, as pessoas que não tem sonhos são pessoas vazias, eu digo aos meus alunos como professora, como educadora, como mãe que sonhem, que acreditam no sonho e que persistam. Resiliência.

 

IN: Você possuía sede alugada, neste ano você inaugurou a sede própria, foi sua maior conquista como empreendedora ou uma delas?

ANR: Foi a maior, eu nunca imaginei que Deus fosse me dar tão rápido, nós conseguimos dar uma entrada, conseguimos nos organizar e até hoje estamos conseguindo. Foi a maior conquista porque eu não esperava o Seja+ com apenas três anos com sede própria no centro de Imperatriz. Qual a empresa hoje que consegue com apenas três anos, por mais menor que seja, comprar um terreno no centro de Imperatriz? Eu não esperava, então como empreendedora foi minha maior conquista.