Jovem que fez missão no Senegal diz que as igrejas de Imperatriz não têm projetos sociais suficientes

Texto por Laís Gomes

Fotos: Laís Gomes e Asaías Lima

 

“creio que tem muitos projetos sociais no Brasil, tem muitas pessoas carentes, mas, pessoalmente, eu queria visitar a África, queria me doar pra África”

Asaías Lima Sousa, mais conhecido como Ferro, é natural de Imperatriz, tem 34 anos, é ex-estudante de Jornalismo e amante de fotografia. Solteiro, evangélico e apaixonado por missões, ele participou de um projeto social na África, em janeiro de 2018. O projeto chamado Keru Dund (Casa de Vida) tem como objetivos oferecer assistência à população do Senegal, com consultas médicas, vídeos e palestras educativas, farmácia, consultório de odontologia e optometria completo e anualmente são realizadas campanhas de saúde. O Senegal é um país com cerca de 12, 8 milhões de habitantes, sendo que a maioria (57,6%) reside em áreas rurais. Dacar, capital nacional, é a cidade mais populosa do país, com 2,8 milhões de pessoas. Os senegaleses enfrentam vários problemas de ordem socioeconômica, com altas taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo, baixa expectativa de vida, etc. A economia senegalesa é pouco desenvolvida e a maior parte do país não possui saneamento básico, nem infraestrutura. A religião com o maior números de adeptos é o islamismo, praticado de uma forma peculiar.

Algumas pessoas se tornam voluntárias e doam suas férias para servir ao projeto durante um mês. Médicos, engenheiros, dentistas, psicólogos e pediatras, são alguns dos muitos profissionais que se doam, anualmente. Não são só profissionais que podem participar, algumas pessoas nem têm formação alguma, mas, pelo desejo de servir ao próximo, abraçam o projeto, Asaías é um deles. Ferro precisava arrecadar R$ 10 mil para esta viagem. Ele correu atrás de patrocínios, fez rifas, feijoada, bazar e vendeu camisetas, com o intuito de conseguir o dinheiro em menos de um ano. Em janeiro de 2018, às vésperas da viagem, ele já havia conseguido dinheiro a mais que o suficiente. Também conseguiu muitas roupas e medicamentos para doação, chegando a levar mais coisas para doar do que coisas pessoais. Nesta entrevista, ele vai comentar sobre as experiências vividas, a diversidade de cultura, as lições de vida e tudo que aprendeu durante o período que passou no Senegal. Ele também vai falar sobre futuros projetos e, como evangélico, vai falar sobre o que acha dos projetos sociais desenvolvidos pelas igrejas locais.

 

 Imperatriz Notícia – Você participou de um projeto no Senegal, África. Por que foi fazer esta ação social em outo país? O Brasil não carece de ajuda?

Asaías Lima Sousa – Bom, eu entendo que o Brasil precisa de ajuda e já tem bastante ONG ajudando, na verdade. Eu acho que sentia como se fosse uma dívida comigo mesmo e eu fui atrás de desenvolver esse projeto no Senegal porque, primeiro, eu queria sair de dentro de uma igreja, queria ver como a igreja trabalha na prática, sabe, fora das quatro paredes, isso me motivou a ir pra o Senegal. Então, creio que tem muitos projetos sociais no Brasil, tem muitas pessoas carentes, mas, pessoalmente, eu queria visitar a África, queria me doar pra África e a forma que eu encontrei para isso foi através do projeto Keru Dund no Senegal.

N – Você arrecadou mais de R$ 10 mil para este projeto, qual foi sua maior motivação?

L. S – A minha maior motivação foi, justamente, saber que poderia ser útil no lugar, no país. Eu tinha o desafio de arrumar minhas passagens, arrumar minha estada lá, minhas despesas pessoais e ainda tinha o desafio de levar a medicação pra o Senegal. Então, assim, a minha maior motivação desde o início foi, saber que existia um projeto num país como o Senegal e saber que a igreja desenvolvia um projeto fora da igreja. É uma casa de saúde que atende toda comunidade africana, independente do credo, da religião dela… então, eu queria conhecer essa experiência.

N – Falando em igreja, você acha que as igrejas locais de Imperatriz desenvolvem projetos sociais suficientes

L. S – Não, de jeito nenhum. A minha igreja [Congregação Filadélfia – Assembleia de Deus], por exemplo, não desenvolve nenhum projeto social e eu acho isso uma barreira muito grande na nossa realidade. A nossa igreja tem se preocupado cada vez menos com isso. A gente vê as igrejas preocupadas em construir grandes e belos templos, que dá um conforto melhor para o fiel, pra o crente, mas o projeto social é uma carência muito grande nas nossas igrejas.

” O Senegal, apesar da maioria da população ser mulçumana, eles têm muita carência de projetos sociais”

N – O fato de ser evangélico foi um problema, visto que o Senegal é dominado por mulçumanos?

L. S – Bom, nós não tivemos nenhum problema nesse sentido, porque o Senegal, apesar da maioria da população ser mulçumana, eles têm muita carência de projetos sociais. A Missão Kairós viu essa abertura, de poder entrar no país com sua profissão, para cuidar da comunidade. É assim que a igreja consegue desenvolver algum projeto lá. O povo senegalês não dá tanta importância a isso, o projeto social está acima de qualquer religião, toda ajuda lá é bem-vinda.

N – Todos os voluntários eram cristãos. A ideia era apenas servir e ajudar aquela comunidade, ou vocês foram com o intuito de convertê-los ao cristianismo?

L. S – Alguns anos atrás, quando eu pensava em missões, eu pensava em ir pra África e falar pra alguém que Jesus amava ela e tal, esse era meu intuito. Porém, eu vi que a realidade é bem diferente. Na verdade, o fato de você estar servindo a ele, de se deslocar do seu país, sabe, sem pretensão nenhuma, nós não ganhamos nada. Pelo contrário, a gente gastou muita grana pra ir pra lá. Então, assim, a questão não é convertê-los, a questão é servir mesmo, servir ao país, e isso ultrapassa a barreira da religião.

N – O Senegal é muito diferente do Brasil. Como você lidou com esse choque de cultura e, principalmente, choque de religião?

L. S – Bom, eu achei interessante porque eu achava que no Senegal só encontraria mulheres de burca, mas eu estava enganado. A língua também é bastante curiosa, o idioma predominante é o Francês. O choque mais marcante foi a linguagem e ver que as mulheres se vestem tão elegantes. Apesar de ter uma sociedade machista, me surpreendi com a forma em que as mulheres se vestem.

N – Que lições de vida você trouxe consigo, das experiências vividas no Senegal

” Sem dúvida nenhuma eu aprendi a ser grato”

L. S – Sem dúvida nenhuma eu aprendi a ser grato. Eles se alimentam só uma vez por dia e ainda assim são um povo muito grato e muito feliz. Eu trouxe uma lição de gratidão mesmo. Embora eu não tenha uma casa luxuosa, eu ajudo essas pessoas, quando posso.

N – Você pretende fazer projetos como esse em outros países?

L. S – Não exatamente como eu fiz no Senegal, porque eu participei de um projeto já consolidado e eu fui como voluntário. Mas eu gostaria de desenvolver projetos desse tipo.

N – Como ex-estudante de Jornalismo, você pretende fazer um documentário ou algo do tipo, sobre as experiências vividas no Senegal?]

L. S – Sim! Sempre tive essa vontade. Inclusive, queria ter levado o material específico para fazer documentário e mostrar o projeto, até pra poder desmistificar esta visão que muitos têm, de que alguns cristãos saem do Brasil para impor uma religião a uma outra cultura, impor uma crença. Na verdade, o que eu vivi no projeto foi muito diferente. A gente conviveu com mulçumanos, pessoas de outras religiões e a gente serviu eles como Jesus me ensinou. Isso pra mim foi muito importante.