Sete em cada dez estudantes desistem do curso de Engenharia de Alimentos na UFMA

Pauta: Jean Camapum

Cyarla Barbosa Nascimento

 

 

De acordo com o relatório de saída (trancamento ou desistência) realizado pela coordenação do curso de Engenharia de Alimentos da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), Campus Bom Jesus, em Imperatriz, em torno de 30 acadêmicos acabam abandonando ou cancelando a matrícula por semestre, ou seja, 75% dos que entram acabam desistindo e não concluem. Este ano, por exemplo, o semestre nem acabou, e em uma turma inicial, em que se matricularam 41 alunos, 17 já desistiram. A média de formados nesta graduação, por ano, é de menos de cinco estudantes.

O tema tem preocupado bastante a coordenação do curso em Imperatriz. Para entender a realidade e tentar diminuir a evasão, ou até mesmo esclarecer aos novos ingressantes sobre o perfil do curso a professora e coordenadora, Germania de Sousa, começou a desenvolver pesquisas com os alunos de Primeiro período, para saber quais são as causas da evasão. Um dos principais motivos identificados é a deficiência de aprendizado: cerca de 50 % dos alunos responderam que tiveram dificuldades nas disciplinas de cálculos, e 40% com as disciplinas que envolvem física.

Reprodução
Primeira turma formada na UFMA: cálculo afasta muitos ingressantes (reprodução)

“O que eu percebo é que eles têm uma deficiência grande nas disciplinas que envolvem a questão das engenharias, com os cálculos e as físicas, que estão relacionadosa base deles. Porque no início tem bastante a parte de cálculo, química e microbiologia “, comenta Germania.

Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), com base em uma análise inédita de dados do MEC (Ministério da Educação), concluiu que mais da metade dos estudantes de engenharia do Brasil abandonam o curso antes da formatura. Os resultados do estudo que foi de 2001 a 2011, mostram que a média de evasão desses cursos na década analisada foi de 55,59%.

Como é o caso dos estudantes Hery Werner, 20; e Juliane Milhomem, 19. Werner, após cursar um período de Engenharia de Alimentos acabou migrando para Comunicação Social/Jornalismo, “não me adaptei à grade do curso, às disciplinas, muito cálculo”, hoje ele está no quarto período de Comunicação e pretende concluir.

Professora Germânia estuda estratégia para ajudar acadêmico a permanecer no curso (Foto Dani Lima)

E o caso de Juliane, que está no terceiro período de Engenharia e diz não ter aptidão nenhuma com as cadeiras de cálculo que são imprescindíveis para o curso. Ela explica que por sua formação nos anos iniciais ser muito ruim, costuma pensar que será difícil seguir em frente nessa profissão, “meu Deus, onde eu estava quando me ensinaram isso? ”, questiona.

Para resolver a dificuldade de aprendizado nas disciplinas de cálculos e físicas, existe a proposta de um professor do curso, Heron Silva Oliveira, que está elaborando um projeto de extensão para trabalhar melhor a deficiência dos alunos de Ensino Médio e também com os alunos da Universidade, como se fosse um reforço na área de cálculos, segundo Germania.

Enquanto isso não acontece, ela continua investigando outras razões que elevam as desistências na formação desta área. Conforme constatou, os outros fatores pontuados foram, a escolha do curso como segunda opção na hora de fazer a inscrição através do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), e muitas vezes a escolha dessa segunda opção estar associada a confusão que fazem entre Engenharia de Alimentos com a área de Nutrição, além de problemas envolvendo saúde e questões financeiras.

A coordenadora também evidencia um motivo que não estava contido na pesquisa realizada pelos estudantes. Segundo ela “o índice de retenção é muito grande, e isso estava deixando os alunos presos em disciplinas que são pré-requisito, o que acabava os desestimulando”. Para solucionar esse problema a coordenadora começou a abrir turmas exclusivas relacionadas às matérias que prendem os alunos, dessa forma os estudantes esperam abrir outras disciplinas no próximo semestre, e se possível disciplina de férias, e assim os acadêmicos conseguem concluir as matérias a tempo.

Buscando soluções para a integralização 

Hery largou Engenharia e hoje cursa Jornalismo

Afim de solucionar a integralização dos alunos, a coordenadora e professora estimula e leva os acadêmicos de Primeiro período para eventos dentro da instituição e feiras de exposição de projetos, como a Fecoimp (Feira do Comércio de Indústria de Imperatriz), para que assim os estudantes possam vestir a camisa do curso, explicar e entender melhor o que é, e o que faz o engenheiro de alimentos, além da inserção dos alunos em projetos de extensão que ofertam bolsas estudantis, o que ajuda a manter os universitários dentro do curso.

“Estou sentindo que a gente está conseguindo aumentar até a média de alunos formandos por semestre, porque nós tínhamos em média 4 alunos, hoje em dia a gente já estamos formando 10, 12, justamente porque esse trabalho vem sendo feito na base, e sendo feito também no final“, conclui Germania.

 

 Anote aí para não errar

Algumas pessoas podem pensar que o curso de Engenharia de Alimentos possui similaridade com o curso de Nutrição, mas não é nada disso. Preste atenção nas dicas da professora Germania:

  • Nutrição: É a ciência que investiga e controla a relação do homem com o alimento para preservar a saúde humana. O nutricionista planeja, administra e coordena programas de alimentação e nutrição em empresas, escolas, hospitais, hotéis, restaurantes comerciais, spas e asilos, entre outros locais.
  • E Engenharia de Alimentos: É uma área específica do conhecimento, capaz de englobar todos os elementos relacionados com a industrialização e comercialização de alimentos. E que pode através do profissional com esta formação, potencializar o desenvolvimento deste setor.
  • O engenheiro de alimentos é especializado para trabalhar em indústrias de alimentos e áreas afins. Sua formação acadêmica reúne conhecimentos em ciência, tecnologia e engenharia, fornecendo-lhes embasamento para atuar em indústrias e setores correlacionados.

As áreas de atuação do engenheiro de alimentos são:

  • Produção/Processo; Garantia da qualidade; pesquisa e desenvolvimento; comercial e marketing; regulamentação de alimentos e bebidas; instituições de ensino superior e pesquisa; consultoria técnica e empreendedorismo.
  • Há 11 anos o curso de Engenharia de Alimentos foi implantado na UFMA (Universidade Federal do Maranhão), e tem duração de 5 anos para a conclusão.